segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Gettysburgh


Neste fim-de-semana (e de ano) resolvi não sair de casa, ficando a, como vulgarmente se diz, "jiboiar". E aproveitei para rever dois filmes sobre a Guerra Civil Norte-Americana, que tinha, em tempos, encomendado pela Amazon. São eles "Gods & Generals" e "Gettysburgh". Gostei mais do segundo do que do primeiro. Independemente dos aspectos técnicos e da fidelidade histórica (que me parece adequada, face às críticas que li), o que mais impressiona é a mortandade, que o conflito causou e que as obras registam. Só na batalha de Gettysburgh, que se julgava poder fazer terminar a guerra e que, na sua fase final, foi travada ao velho estilo prussiano - com os combatentes confederados, formados em linha, avançando em campo aberto contra as posições defensivas do exército federal - morreram, em 2 dias, 50.000 homens.

Quando se pensa na comoção e na angústia que, hoje em dia, suscita na opinião pública o ferimento de um elemento do exército português destacado para o Afeganistão ou a morte de um soldado inglês ou norte-americano, fica-se a meditar no que sucederia perante uma ocorrência de 50.000 baixas. Mas talvez não sucedesse nada. O poder do primeiro zero à direita de qualquer algarismo é esse de anunciar a chegada da estatística, que neutraliza toda a sensibilidade humana.

1 comentário:

JPB disse...

Para ler ao som de "White Mansions"...
A guerra civil foi a que mais americanos matou - mais do que em todas as outras guerras dos EUA somadas, II Guerra Mundial incluída. O que diz muito da natureza das guerras civis, geralmente bastante mais sanguinárias do que as outras - porque se combatem não por simples hectares de território, mas pela alma dos povos.

A carga da Divisão Pickett, esse episódio final de Gettysburg em que os Confederados marcharam à baioneta contra os canhões federais (e, obviamente, foram dizimados como tordos), só seria possível num contexto desses: foi uma loucura heróica de quem lutava por algo mais do que uns poços de petróleo ou uns fardos de algodão.

Hoje, no chamado Ocidente, civilizado e asséptico, resolvemos achar que se podem fazer guerras sem mortos - pelo menos, do nosso lado. Mesmo aos mortos dos outros, chamamos-lhes "efeitos colaterais". E escondemo-los. 2 mil mortos americanos no Iraque foi uma catástrofe. Mas mais do que isso morreram nas estradas, movidos a derivados do petróleo iraquiano.