terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Democracia

"Podia o capitão Soromenho, se debatesse tais problemas com ele, lançar-lhe o argumento de que nos povos incultos, sem preparação nem tradição cívicas, a liberdade se transforma em licença e que a democracia mais não é, nesses casos, do que fachada do caos e da corrupção".

Isto escrevia Joaquim Paço D'Arcos em 1950, na "Crónica da Vida Lisboeta". Palavras proféticas...

Clint Eastwood



Não posso dizer que seja um grande entusiasta da fase incial da sua carreira de actor, sobretudo no papel da personagem Dirty Harry, ou mesmo da fase actual, quando interpreta os seus próprios filmes. Mas não posso deixar de reconhecer as minhas afinidades de gosto quando se trata de apreciar as suas escolhas para as bandas sonoras. As músicas de "As Pontes de Madison County", "Meia Noite No Jardim do Bem e do Mal" e " Gran Torino" são disso exemplo.



quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Alertas

Hoje, pela manhã, quando tomava o meu chazinho e a meia-torrada no café do bairro, dei conta de uma reportagem no telejornal sobre o tempo (frio) que faz em Portugal e, principalmente, sobre as neves que caíram no Norte do país.

Desde que me conheço que faz calor no Verão e frio no Inverno. Parto, portanto, do princípio de que é normal, e de que as pessoas já se habituaram a este «movimento rotativo» de estações e temperaturas. Mas a Protecção Civil acha que não. A Protecção Civil parece descobrir, todos os anos, que no Verão faz calor e que no Inverno faz frio e, por isso, todos os Verões nos alerta, no mesmo tom inquieto, para que bebamos liquidos, procuremos sombras, vistamos roupa leve e evitemos grandes exposições ao Sol, e todos os Invernos para que nos agasalhemos, conduzamos com precaução, nos recolhamos em nossas casas durante os temporais, etc., etc., etc. Pequenos truques de autodefesa que as nossas pobres cabeças dificilmente engendrariam.

Mas o que torna mais patética a situação é a excitação que varre os canais de televisão quando a Protecção Civil lança um alerta. É ver os seus repórteres a suar as estopinhas ou a bater o dente enquanto "oscultam" a voz do povo sobre os caprichos do tempo e os comportamentos que toma nas, para eles, inesperadas condições, ora estivais (como se o fogo dos infernos tivesse descido à Terra), ora invernis (como se estivesse iminente a quinta glaciação).

Hoje, a reportagem era em Bragança e em Vila Real, cidades que estavam cobertas de neve (coisa extraordinária e imprevisível nesta altura do ano). O repórter (tiritante) perguntava ao pasmado popular se tinha frio e o que fazia ou pretendia fazer na circunstância. A resposta veio com o brilho do que é simples e óbvio: - Sim, estava frio e por isso se tinha agasalhado. Quanto à neve, acontecia todos os anos, já estava habituado.

Bebi mais um trago do meu chazinho fumegante, enchi os pulmões de calor, e lá saí à rua no passo atento e circunspecto que os seus oito graus centígrados e a Protecção Civil me recomendam.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Livro da Caça


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Sou saudosista e não me importo de o dizer. Quando se chega a uma certa idade, as boas lembranças do passado servem, de certa maneira, para "compensar" as sombras de um futuro incerto e perigoso.

Vem isto a propósito do facto de me ter chegado às mãos uma reprodução em DVD de um conjunto de textos a que foi dado o nome de "O Livro da Caça". Trata-se de um grosso volume, encardenado de modo artesanal, que reune uma série de histórias ocorridas entre os primórdios e os anos setenta do século passado com vários membros da minha família nas suas então habituais jornadas venatórias. São textos manuscritos, em prosa ou em verso, por vezes numa caligrafia muito particular, quase sempre ilustrados com fotografias e/ou desenhos alusivos às pessoas ou aos acontecimentos, que transmitem, a quem os lê e participou nas tais jornadas, o prazer das experiências que nos marcaram positivamente e a saudade de um certo tipo de convivência que, infelizmente, desapareceu por completo.

Eu, que fiz parte da "terceira geração" familiar de amantes do desporto venatório (que me perdoem os defensores da natureza!) e que conheci a maioria dos protagonistas dessas histórias, sinto, ao revivê-las, a nostalgia de um tempo - ou mais do que um tempo, de uma mentalidade e de um modo de estar - de que não encontro o menor vestígio nos nossos dias.