quarta-feira, 21 de julho de 2010

Justiça de Fafe


Nestes tempos de crescente materialismo, em que muitos, com manifesto orgulho, se afirmam ateus ou agnósticos, a chamada silly season televisiva proporcionou-nos, há dias, imagens que quase pareciam tiradas de um qualquer romance de Camilo. A notícia era de que o Episcopado teria decidido afastar da paróquia de Fafe o padre - de que apenas fixei o apelido Lopes - que «pastoreava o rebanho» local há mais de 25 anos. Mas a notícia só ganhou estatuto de notícia porque nem o Episcopado, nem, pelos vistos, a televisão, contavam com a reacção popular à dita decisão, reacção que não hesito em comparar, senão nos efeitos, pelo menos na emotividade, à velhinha revolta da Maria da Fonte.

A população, maioritáriamente constituída por mulheres - mas não destituída de uma representação masculina digna, possivelmente assegurada pelos respectivos cônjuges -manifestou o seu desagrado com a resolução episcopal de forma muito expressiva (e impressiva!), indo ao ponto de alugar autocarros para uma concentração em frente à respectiva sede, em Braga, e aí gritar a plenos pulmões: «Queremos o Padre Lopes! Queremos o Padre Lopes!» Ouviram-se ameaças de exposição do assunto ao Vaticano. E houve mesmo uma tentativa de invasão do edifício para forçar a revisão do caso, sugerindo uma desassombrada e já entradota moçoila para os ecrãs que, se as circunstâncias o exigissem, se pregasse com um valente par de «galhetas» no responsável pela decisão.

O Episcopado - presumo - não voltará com a palavra atrás. Mas fez-me bem à alma verificar que nem todo o nosso povo «dorme»; e que o português ainda mostra sangue na guelra se lhe pisam alguns... infelizmente não todos os calos.

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