Hoje, pela manhã, quando tomava o meu chazinho e a meia-torrada no café do bairro, dei conta de uma reportagem no telejornal sobre o tempo (frio) que faz em Portugal e, principalmente, sobre as neves que caíram no Norte do país.
Desde que me conheço que faz calor no Verão e frio no Inverno. Parto, portanto, do princípio de que é normal, e de que as pessoas já se habituaram a este «movimento rotativo» de estações e temperaturas. Mas a Protecção Civil acha que não. A Protecção Civil parece descobrir, todos os anos, que no Verão faz calor e que no Inverno faz frio e, por isso, todos os Verões nos alerta, no mesmo tom inquieto, para que bebamos liquidos, procuremos sombras, vistamos roupa leve e evitemos grandes exposições ao Sol, e todos os Invernos para que nos agasalhemos, conduzamos com precaução, nos recolhamos em nossas casas durante os temporais, etc., etc., etc. Pequenos truques de autodefesa que as nossas pobres cabeças dificilmente engendrariam.
Mas o que torna mais patética a situação é a excitação que varre os canais de televisão quando a Protecção Civil lança um alerta. É ver os seus repórteres a suar as estopinhas ou a bater o dente enquanto "oscultam" a voz do povo sobre os caprichos do tempo e os comportamentos que toma nas, para eles, inesperadas condições, ora estivais (como se o fogo dos infernos tivesse descido à Terra), ora invernis (como se estivesse iminente a quinta glaciação).
Hoje, a reportagem era em Bragança e em Vila Real, cidades que estavam cobertas de neve (coisa extraordinária e imprevisível nesta altura do ano). O repórter (tiritante) perguntava ao pasmado popular se tinha frio e o que fazia ou pretendia fazer na circunstância. A resposta veio com o brilho do que é simples e óbvio: - Sim, estava frio e por isso se tinha agasalhado. Quanto à neve, acontecia todos os anos, já estava habituado.
Bebi mais um trago do meu chazinho fumegante, enchi os pulmões de calor, e lá saí à rua no passo atento e circunspecto que os seus oito graus centígrados e a Protecção Civil me recomendam.